Terras Cobiçadas

Começou cedo a luta dos civilizados para expulsar os índios de suas terras. As lides e as reclamações acompanharam a obra civilizadora dos missionários, que se desvelaram em todas as ocasiões em defesa dos silvícolas contra a cobiça dos latifundiários privilegiados. Essa desumana luta contra os índios durou até o desaparecimento do último missionário, com a vitória dos inimigos dos índios.

Inesperadamente apareceram supostos donos dos terrenos escolhidos e ocupados pelos índios. Essas terras pertenceram aos padres da companhia de Jesus, a eles cedidas por sesmarias. Com a sua saída do Brasil, os terrenos reverteram à Fazenda Real. Aconteceu, porém, que, meses antes da chegada dos missionários capuchinhos à Gamboa, o Vice-Rei “botou na praça” a Fazenda do Colégio com as terras que dela faziam parte e entre estas estavam as escolhidas pelos índios nas quais acabavam de fixar sua Aldeia, situada no distrito de Freguesia, acima da vila de São Salvador nove léguas, hoje São Fidélis, que se originou do ajuntamento dos índios coroados ao lugar chamado Gamboa, à margem do sul do Rio Paraíba, depois de desertarem da aldeia de Guarulhos, e viveram dispersos por diferentes sítios.

Os arrematantes, Joaquim Vicente dos Reis e Manoel José de Carvalho, ao saberem que índios estavam localizados no perímetro de suas terras, não hesitaram de reclamar ao Vice-Rei para afastá-los. Os missionários levantaram-se em defesa dos direitos dos índios apresentando suas razões, que resumiram em três pontos:

– Os índios consideram-se donos das terras, em cujas matas têm vivido até hoje, e não querem trocá-las por nenhuma outra;

– As terras que lhes querem oferecer em troca não servem, por serem constituídas de pântanos e montes estéreis;

– Finalmente considerem as autoridades competentes que proceder à avaliação da dita fazenda, mencionando embora as terras dos índios, não lhes deram valor algum porque estavam por eles ocupada, reconhecendo-lhes indiretamente direito legítimo de posse. Acrescentaram os missionários a decisão dos índios que, a não ser nessas terras, em nenhuma outra formariam a sua aldeia.

O direito dos índios foi reconhecido!

A luta pela posse das terras dos índios, repetia-se agora. Os Franciscanos haviam estabelecido as Aldeias numa distância de quarenta quilômetros da Vila de Campos. Nem assim as suas terras escaparam à cobiça dos colonos. Prevendo os moradores da Paraíba do Sul o próximo futuro desses lugares, começaram a requerer sesmarias, alegando direitos fantásticos em prejuízo dos índios e até apossaram-se de terrenos, uns como posseiros, outros como primeiros povoadores. Os motivos por que esses intrusos tentavam obter as terras que anteriormente haviam recusado por inabitáveis e infestadas por índios bravios era explorar minas de ouro que julgavam abundantes e para esse fim escravizar o gentio. Abertamente se dizia que “redução era tão útil para a empresa das minas”.

As terras dos Jesuítas que foram confiscadas e depois da sua expulsão, arrematadas por Joaquim Vicente dos Reis, estavam situados no “Algodoeiro”, hoje Rio do Colégio. Uma e outras constituíram a fazenda do Imbury com 500 braças, e começava na “Baixa do Peixoto” até a “Cachoeira do Rio do Colégio”; mais de 1500 braças desde a cachoeira até o Rio do Colégio, e ainda 1200 até o “Marco da Aldeia”, e, finalmente uma légua de terras do “Marco da Aldeia” até a “Cachoeira do Salto Grande”, Nesta última foi fundada Aldeia de São Fidélis”.

P. Frei Jacinto de Palazzolo





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