A primeira Festa da Lagosta, ocorrida em 1968, tinha o propósito de se tornar um grande piquenique que chamasse a atenção do Estado para São Fidélis, numa tentativa de atrair recursos para um município sacrificado pela seca e pelo descaso do Governo Federal, quando os jovens estudantes da Organização do Desenvolvimento Municipal (ORDEM) realizaram o evento, que começou a entrar nos roteiros turístico do Brasil. E, dois anos depois, as Companhias de Aviação já se interessavam em vender a festa no exterior.
Aluísio Perlingeiro de Abreu, coordenador geral, realizou mais de quatro eventos. De ano para ano era maior a presença de turistas e o interesse de todos. As festas chegaram a reunir cerca de três mil pessoas no Horto Municipal, onde era realizada e tornou-se conhecida nacional e internacionalmente passando a ser ponto alto no calendário turístico do Rio de Janeiro.
A Festa da Lagosta fez um grande sucesso e a cidade tornou-se conhecida como a “Terra da Lagosta” A lagosta chegou a ser chamada “de nosso ouro” e considerada mais saborosa do que a lagosta da água salgada, afirmavam conhecedores brasileiros e estrangeiros que costumavam participar das festas.
Muitas pessoas bonitas por aqui passaram e também turistas estrangeiros prestigiaram a Festa da Lagosta. Era eleita a “Garota da Festa”, recepcionistas enfeitavam o local e o Horto Municipal se transformava num cenário tropical e aconchegante para a recepção dos convidados. Frutas tropicais e muito shoop eram servidos, regados pela melhor lagosta da região. Na compra do ingresso, o participante tinha direito ao caneco, prato de lagosta (em média 600 gramas), manjubinhas, cachorro-quente churrasquinho e refrigerante.
As manchetes do jornal O GLOBO diziam: “A doce lagosta de São Fidélis é a grande pedida para hoje” , “São Fidélis recebe cerca de 10 mil pessoas para a V festa da lagosta” e muito mais era dito em relação ao município considerado um dos mais importantes do Norte Fluminense.
As festas tiveram a colaboração em sua organização de diversos grupos (Casa da Amizade, Rotary Clube, Lions Club etc) e também de vários prefeitos que administraram o município durante o período de suas ocorrências ( Humberto Lusitano Maia, Paulo Jasbik etc).
A lagosta de São Fidélis vive no Rio Paraíba, que banha a cidade, numa extensão de mais de 70 quilômetros, desde Campos, passando por Cambuci e seguindo até o município mineiro de Porto Novo de Cunha. O estoque da lagosta era feito em toneladas, com muita segurança higiênica, para que sua qualidade fosse mantida e assim, agradasse a todos os convidados.
Inovações surgiam a cada ano juntamente com a criatividade daqueles que organizavam a festa. evidenciando sempre a própria lagosta, que chegou a ser preparada de mil formas diferentes, com os mais variados pratos.
A cidade era regada, no mês de abril, período em que a Festa da Lagosta passou a ser realizada juntamente com as comemorações da festa do padroeiro, por um período de imensas trocas culturais. Festivais musicais, encontros de bandas marciais de várias localidades vizinhas, artesanato, grandes bailes populares e até artistas profissionais , como Martinho da Vila e Elke Maravilha prestigiaram a cidade.
A super-badalada festa da lagosta,” O Furacão , como chegou a ser chamada, não tirava da Cidade Poema o lençol de tranquilidade habitual e tão procurado pelos visitantes que gostavam de saborear os crustáceos ao som do Paraíba e a luz do céu estrelado.
O mesmo grande jornal que por muitos anos exaltou São Fidélis e sua famosa festa, trouxe também manchetes que entristeceram quem viveu e quem esperava viver por muitos anos aquele sensacional evento que muito engrandeceu nosso município: “Festa da Lagosta está ameaçada pela luta política de famílias da cidade”.
O Sr. Aluísio Perlingeiro de Abreu era quem detinha a patente da Festa da Lagosta, iniciada pela Ordem – Organização de Desenvolvimento Municipal – qual objetivo era a divulgação, no Brasil e no exterior, do nome de São Fidélis. Ele chegou em meados de 1972, a admitir a venda da promoção ao Governo do Espírito Santo.
Seu irmão, o Deputado estadual José Perlingeiro de Abreu – ex- prefeito do município – acreditava que a Festa da Lagosta, como novo ciclo de ouro na vida de São Fidélis, estava encerrado. E as lagostas de água doce, que a festa projetou,jánão despertavam mais o interesse de grupos americanos e franceses que desejavam industrializá-las.
Muitas culpas e culpados tiveram o triste fim da Festa da Lagosta. Muitas brigas na justiça sobre a definição da patente da festa ficar com o seu organizador ou com a prefeitura, fizeram o evento findar-se e tornar-se totalmente desorganizado, chegando mesmo a dar prejuízo ao município.
O festival da lagosta já bastante decadente, não mais tinha o entusiasmo dos primeiros anos e ao assumir a prefeitura, uma das primeiras preocupações do prefeito Sebastião de Almeida e Silva, foi suspender a realização do evento, sob alegação de que a medida era para preservar a espécie, deixando transparecer por outro lado que a suspensão estava sendo motivada pela desorganização dos anos anteriores.
A última Festa da Lagosta, realizada no dia 29 de maio de 1988, quase foi suspensa por uma liminar pedida pelo Centro Norte Fluminense para a conservação da natureza, visando à suspensão do festival. Alegava-se, naquela época, que a lagosta poderia estar entrando em extinção por causa dos festivais realizados. Mas, os pescadores diziam que apesar de admitirem a falta de conscientização de alguns, o maior predador seriam as barcas que praticavam o garimpo naquela época. Diziam que depois que algumas barcas vieram para o município, nos anos 80, os pescadores passaram a ter prejuízo e a lagosta a ser ameaçada. O fundo do rio era remexido com produtos químicos, obrigando os crustáceos a procurarem outro habitat.
Depois de muitas confusões na justiça sobre quem era o dono da Festa da Lagosta ( Aluísio Perlingeiro de Abreu ou a Prefeitura) o então prefeito, Sebastião de Almeida e Silva, encaminha à Câmara, mensagem pedindo o retorno da festa aos seus primitivos donos, no caso a Organização de Desenvolvimento do Município – a ORDEM. Caso a Câmara aprovasse a mensagem, a “Batalha da Lagosta” que há anos se desfechava entre a prefeitura e supostos donos, estaria praticamente encerrada, já que o juiz vigente na época , Luiz Anchieta Sandoval Nobre, também anunciara para os próximos dias a decisão da ação popular que desde 1973 se arrastava na Comarca, por causa da festa.
Hoje, através da Colônia de Pescadores Z-21 de São Fidélis, existe mais conscientização quanto à preservação de nossa lagosta (Macrobranchhium Carcinuns).
A Colônia de Pescadores realiza o projeto “Faça viver essa idéia. Salve a lagosta”, onde a lagosta é posta em cativeiro ovada e após a desova, a lagosta é devolvida ao rio e os alevinos (filhotes de lagosta) também são soltos no rio, visando o repovoamento da espécie.
Em média são soltos cerca de 500 mil alevinos, graças à iniciativa da Colônia e a colaboração dos pescadores.
Se todos pensarem e agirem desta forma, quem sabe não poderemos ter de volta a nossa tradicional “Festa da Lagosta”.
Jornal “O Globo”, 1972 e 1975.
Material didático organizado pela turma 1303 – CESF -2000.
1ª Festa -11/02/1968 (Rainha – Altair Maia)
2ª Festa – 20/04/1969 (Rainha – Marli Mercador Rodrigues)
3ª Festa – 02/05/1970 (Rainha – Regina Ribeiro)
4ª Festa – 01/05/1971 (Rainha Terezinha Calomeni)
5ª Festa – 30/04/1972 (Rainha Arice Barcelos)
6ª Festa – 06/05/1973 (Rainha Sandra Helena Faria)
7ª Festa – 04/05/1974 (Rainha Jumara Félix)
8ª Festa – 10/05/1975 (Rainha (?))
9ª Festa – 15/05/1976 (Rainha Denise Goudard)
10ª Festa – 29/05/1988 (Rainha Renata Viana)
Fonte: Sr. Aluiso Perlingeiro de Abreu, que organizou as cinco primeiras festas.
Universidade lança manual para ajudar a preservar lagosta.
12/08/2003
14:57 Brasília, 11/8/2003 (Agência Brasil – ABr) – Dados coletados pela estudante de Biologia Elane Oliveira da Silva, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), sobre a Lagosta de São Fidélis – na verdade, um camarão de água doce, denominado ?pitu? – foram publicados em um manual que, em 27 páginas, ensina os pescadores como preservar a espécie ameaçada de extinção em todo o estado do Rio, de acordo com o Ibama.
Autora da primeira monografia de final de curso das Licenciaturas da Uenf, Elane concluiu que não adianta promover o defeso da espécie para um dado período, uma vez que ela se reproduz o ano todo. O ideal, segundo ela, seria fazer com que os pescadores não capturem mais fêmeas ovadas, bem como indivíduos menores que 11,5 cm – tamanho mínimo para que a fêmea realize a sua primeira reprodução, é o chamado defeso do tamanho mínimo de captura.
A lagosta é muito reprodutiva. Cada fêmea produz de 60 mil a 240 mil ovos. Muitos morrem, mas, mesmo assim, a taxa de sobreviventes é muito alta. \”Se cada fêmea pudesse realizar pelo menos uma reprodução durante sua vida já seria muito bom\” – a estudante. Segundo Elane, embora a lagosta esteja presente em outras partes do Rio Paraíba, sua área reprodutiva principal é o município de São Fidélis, devido às pedras e corredeiras. Depois da desova, as larvas descem para o estuário, em Atafona, onde permanecem de 56 a 65 dias. \”O estuário do Rio Paraíba do Sul\”, explica, \”é uma espécie de berçário das lagostas, que ali se desenvolvem, sofrem sua metamorfose e depois retornam para o habitat natural, nadando contra a corrente.
Embora seja chamado de lagosta pela população, o pitu tem características bem diferentes, a começar pela cor, amarronzada. Além disso, o camarão tem duas quelas (chamadas também de puãs) que servem como meio de locomoção e são inexistentes nas lagostas verdadeiras.
A monografia de Elane, com o título ?A informação científica como ferramenta na formação da consciência ecológica para proteção da Lagosta de São Fidélis (Macrobrachium carcinus Linnaeus, 1758)?, foi a vencedora do concurso organizado pela Ong Ecos Rio Paraíba. O próximo passo é a produção de um vídeo educativo sobre o tema que, assim como o manual, será distribuído nas escolas de São Fidélis.
Comissão julgadora formada por representantes dos veículos de comunicação para a escolha da rainha e princesa.
rainhas e princesas que eram selecionadas pelo júri para auarem na recepção da festa da lagosta.